O PENSAMENTO CURRICULAR NO BRASIL
Nos anos 20, através de acordos
bilaterais entre governos brasileiros e norte-americanos, iniciam-se as
preocupações no campo de currículo no Brasil. Somente após 60 anos o
referencial nacionalista norte-americano foi abalado. A partir disso, o
pensamento curricular passou a sofrer outras influências (francesa, marxista)
bem com a inclusão de trabalhos de pesquisadores brasileiros tendo com
referência os pensamentos críticos.
A partir dos anos 90, o
pensamento curricular passou por uma nova faze. O currículo passou a ser visto
com enfoque sociológico e como um espaço de relações de poder. O currículo
passou a ser visto como construção social do conhecimento e buscaram-se
relações entre o conhecimento científico, conhecimento escolar, saber popular e
senso comum. Além disso, a política passou a fazer parte do contexto
curricular. A ideia central era de que a compreensão do currículo só é possível
quando inserido no contexto político, econômico e social.
Ainda na década de 90, os
enfoques pós–moderno e pós-estruturais passaram a fazer parte do pensamento
curricular, sofrendo influência de autores com Foucault, Derrida, Deleuze,
Guattai e Morin. Ainda nessa década, ao hibridismo (multiplicidade de
tendências e influências ligadas) se tornou a marca do pensamento curricular no
Brasil. Contudo, mesmo garantindo maior vigor ao campo, o hibridismo permite
certa dificuldade na definição do que vem a ser currículo. Com isso, o
currículo torna-se um campo em que diferentes autores, embasados em capital
social e cultural na área, apresentam seu entendimento e tomam como verdade.
Em outras palavras, quando
analisamos a produção no campo do currículo, o conhecimento de sujeitos
capacitados é considerado o objeto. Como resultado, é a relação de poder nesse
campo que fazem algumas ideias, de interesse especifico, tornarem-se aceitas
HIBRIDISMO: A MARCA DO CAMPO DO CURRÍCULO
No Brasil, há três principais
grupos que são: a perspectiva pós-estruturalista, o currículo em rede e a
historia do currículo.
- Perspectiva Pós-Estruturalista: essa perspectiva é oriunda
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por meio dos pensamentos de
Silva. Nos primeiros trabalhos, as conexões entre os processos de seleção,
organização e distribuição dos currículos escolares e a dinâmica de produção e
reprodução da sociedade capitalista são analisadas. Posteriormente, as
teorizações críticas passam a ser influenciadas pelas ideias pós-modernas. A
preocupação é integrar análise e ação política e a contestação entre o
conhecimento e o conhecimento escolar.
A partir daí, ocorre a ruptura
quanto à interpretação do conhecimento com a inserção do pensamento
pós-estruturalista. No pensamento pós-estruturalista, o foco não é somente na
questão econômica, mas também para questões de gênero, etnia, sexualidade bem
como razão, ciência e progresso.
Ademais, nesse pensamento não há visão do futuro. Outra descontinuidade
apresentada diz respeito a ideologias, que são vistas por esses pensadores com
uma visão falsa do mundo social em oposição a realidade, que é considerado o
discurso verdadeiro.
De acordo com Silva e Michael
Young, “o verdadeiro critério de validação do saber é a sua capacidade de
contribuir para a liberação humana...”.
A defesa da subjetividade
fragmentada, descentrada e contraditória assim como o questionamento das ideias
de emancipação e de conscientização são as principais marcas do pensamento
pós-estruturalista. Ou seja, nessa fazer, não há somente um discurso
verdadeiro, mas sim discursos não equivalentes.
Em adição, para o pensamento pós-estruturalista
o conhecimento e o saber constituem fontes de libertação, esclarecimento e
autonomia isto porque há um estado permanente de luta contra posições e
relações de poder. Além disso, se o sujeito foi constituído na e pela
linguagem, não é possível falar em um sujeito autônomo.
Após estudos adicionais e com
efeito de uma virada linguística, assume o entendimento de que a maneira como o
mundo é definido e dividido por cada indivíduo é o sistema que nos faze
refletir, ver e interpretar os objetos do modo como fazemos. Esse sistema foi definido com epistemologias
sociais.
A partir desse pensamento,
acredita-se ser melhor evitar que discursos de grupos restritos sejam
opressivamente apresentados como únicos possíveis e única direção a ser tomada
no campo educacional e do currículo. Com isso, é possível conceber que a Teoria
de Currículo é constituída de saber e poder.
Nesse ponto, o currículo é
considerado uma forma que representação que constitui com sistema de regulação
moral e de controle. Ou seja, o currículo é o determinante e o produto das
relações de poder e identidades sociais.
- currículo e conhecimento em rede: Essa vertente de
pensamento ganhou destaque na segunda metade da década de 9 e foi originada de
pesquisadores do Rio de Janeiro,
principalmente, por meio de Nilda Alvez e Regina Leite Garcia e se intensificou
por meio da coleção de livros denominada “O Sentido da Escola”. A principal
influencia é francesa e atualmente o autor Boaventura de Sousa Santos tem sido
o mais importante.
Nesse estudo, o foco central é a
categoria cotidiana e formação de professores.
Alves (1986) apresenta quatro
esferas articuladas de formação de profissionais: formação acadêmica, ação
governamental, pratica pedagógica e pratica política. A prática atuava como articuladores entre as
esferas politicas e teóricas. Em 1988 há uma rediscussão sobre a formação de
professores, defendendo uma base comum nacional. Nesse contexto novamente é
levantada a questão da centralidade da pratica social e a existência de vários
espaços de formação articuladas.
No ano de 1992, um curso de
Pedagogia é apresentado por Alves e Garcia na Universidade Federal de
Fluminense. Nesse curso era defendido que o conhecimento fosse entendido como
pratico, social e histórico, negando a ordenação, a linearidade e a
hierarquização. Nesse ponto, a experiência curricular era desenvolvida em um
processo alternado: o individual e o coletivo, resultante do cotidiano. Em outras palavras, o conhecimento vai se
moldando em redes que correspondem aos mais diversos contextos cotidianos.
A concepção de rede de
conhecimento passa por uma maior elaboração teórica. Acredita-se que o
currículo está diretamente relacionado com conceito moderno de conhecimento. Se
considerar que o mundo moderno esta em crise é necessário criar novas
perspectivas para a tematização curricular. Dessa forma, as três esferas do
mundo moderno passam a ser consideradas, que são: o mundo do trabalho, produção
cientifica e o questionamento da razão como forma privilegiada de entendimento
do mundo. Com a fluidez, coletivização do mundo moderno, os saberes resultantes
das ações cotidianas passam a ter maior influencia que o currículo moderno.
Como forma geral, o conhecimento
em rede é baseado nas esferas cotidianas da sociedade, tecido por contatos
múltiplos e pela junção da teoria e da pratica. Essa nova moldagem, além de
eliminar as fronteiras entre ciência e senso comum, torna-se fundamental
considerando a multiplicidade e a complexidade de relações nas quais as pessoas
estão constantemente envolvidas em que criam conhecimentos e agregam o
conhecimento de outros seres humanos.
HISTÓRIA DO CURRÍCULO E
CONSTITUIÇÃO DO CONHECIMENTO ESCOLAR
Nos primeiros anos, o estudo
sobre o currículo era influenciado pelas discussões inglesas e em paralelo
pelas discussões nacionais, por meio de estudos históricos que passariam a ser
um dos principais itens discutidos pelo Núcleo de Estudos de Currículo (NEC).
O trabalho desse grupo segue duas linhas
principais: o estudo do pensamento curricular brasileiro e o estudo das
disciplinas escolares. O segundo vem sendo desenvolvido pelo NEC, tendo como
objetivo a constituição do campo de currículos e as influencias estrangeiras.
Nos primeiros anos de estudo, a
influencia estrangeira é o principal foco. O limite do enfoque foi analisado
com a intenção de evitar interpretações que reduziam a produção brasileira a um
simples copia do tecnicismo que se elaborava nos EUA.
Entre
1994 e 1996, buscou-se repensar o conceito de transferência tanto no pensamento
curricular quanto focalizando o ensino de currículos na Universidade do Rio de
Janeiro. Nesse ponto, a globalização, a hibridização cultural, o cosmopolitismo
e a temática do multiculturalismo passam
a ser considerados. É nesse ponto também que as preocupações com a discussão da
identidade são levadas em consideração.
Com
isso, um grupo de estudiosos faz analise das produções teóricas bem como das
politicas implementadas no país, dos currículos vigente, da função do professor
e do intelectual na constituição do campo e das praticas vividas. Com essa
análise coloca-se em crise a concepção de currículo como texto politico e a
existência de uma reconfiguração.
No que
diz respeito ao papel do pesquisador / professor, esse individuo é colocado
como capaz de se apropriar das diferentes produções para construir soluções e
propostas alternativas. Nestes trabalhos a relação entre teoria e pratica são
valorizadas.
Como uma segunda linha de
trabalho desse grupo considera-se a historia das disciplinas escolares partindo
de seu desenvolvimento até sua consolidação tendo com principal base a forma
como as instituições específicas são desenvolvidas. Esses trabalhos buscam
atuar na inserção entre o estudo das disciplinas escolares e o estudo das
instituições educacionais.
Os estudos dessa linha apontam a
escola como há uma ligação entre o cultural, o social e o pedagógico. Assim
sendo, a formação do currículo é influenciada pela instituição. Além da
instituição, o professor também influenciam os alunos, motivando ou não, por
meio das relações de sua disciplina com as vivencias desses alunos.
Contudo, quando se considera a influencia da instituição e do professor,
existem algumas outras variáveis que influenciam: as lideranças disciplinares,
a maior ou menos autonomia da instituição frente aos mecanismos oficiais e a
própria formação do profissional.
TENDÊNCIAS
A principal marca do campo do
currículo no Brasil é o hibridismo, ou seja, um campo habitado por sujeitos
híbridos culturais e em que se misturam as influências, as interdependências e
as rejeições.
O processo de hibridização ocorre
com a quebra e a mistura de diversos fatores influenciadores.
Além disso, é importante
considerar a o foco politico e pós moderno. Nesse contexto, associam-se as
perspectivas do futuro de mudanças, fundamenta-se na filosofia do sujeito, da
consciência e a valorização do conhecimento como produtor dos sujeitos críticos
e autônomos.
Outra marcar é trazer de volta os
discursos que estão foram do campo educacional. Por exemplo, passa-se a
considerar a filosofia e a sociologia. Essa redefiniçao envolve tanto um
reterritorialização das referências à produção em currículo, mas também da
construção de novas preocupações. Nesse ponto ao principal tendência é a
valorização é a valorização de certa discussão da cultura.
Contudo, a relação com os demais
campos precisa ser analisada pelo pesquisador que irá apropriar-se do que lhe é
útil. Portanto, os pesquisadores devem revalorizar as discussões sobre
currículos buscando a movimentação entre os diversos campos e assimilando os
melhores elementos.